mês de Julho tinha sido apagado como uma vela,
por um vento cortante que anunciava Agosto.
Em Nice, ao longo da estrada junto ao mar, as cabanas
voltavam o seu rosto de madeira inexpressivo, para
o mar azul-esverdeado coberto de espuma, que batia suavemente
contra os areais infinitos.
Aquele era o género de clima que para testar os limites de qualquer um.
Em relação a mim e ao meu humor, não haviam noticias alegres (...)
Tínhamo-nos tornado cada vez mais irritáveis ao longo das férias.
Por momentos, tinha repensado em algumas coisas, em relação
ao mês de Setembro. Setembro, o inicio relutante das aulas e
a altura do ano em que a minha idade aumenta eternamente.
Lembrara-me também de como uma acção minha, podia ter um enorme impacto.
Como de costume, conhecera, nesta férias, uma rapariga á qual me afeiçoara
bastante.
Era ruiva, com umas quantas sardas e com uns olhos imensamente profundos,
com cor vulgar.
O seu vocabulário era excepcional, o que me dava uma enorme vontade de
interrogar sobre o significado de imensos adjectivos, que usara milhares de
vezes.
No entanto eu sabia que algo de maléfico a conduzia.
Apesar da excelente rapariga que era, coberta de boa educação ela receava
sempre o pior, pelo menos em relação ao que sabia dela.
A nossa amizade foi crescendo, pelo menos visto a meus olhos;
aquela ruiva cheia de manias, era inconscientemente como uma irmã para mim.
Uma das suas particularidades era a insistência em acentuar as terminações (das palavras),
o que me influenciou bastante nas ultimas semanas.
Quando dei por mim prenunciava palavras caras com significados enormes.
Dizia inúmeras vezes adjectivos terminados em -imo e usava sempre o Grau Superlativo.
Era hábito ouvirem-me a dizer:
«este campo é, dentro dos possíveis, pobríssimo e acima de tudo frigidissimo».
seguido
de uma acentuação dela:
«Diria mesmo paupérrimo. Como é possível existir vida neste lugar,
situado no cordial país em
que nos encontramos? França!»
Não digo que estou desiludida, mas visto por um lado (praticamente invisível),
apercebi-me que mais do que a postura e a forma de pronunciar as palavras,
tornara-me agora neutra. Desmedidamente neutra.
o por enquanto seria (quase) a sua seguidora,
mas RELEMBRE-ME que eu não vivo em França nem em Itália, vivo
calmamente num pais tristíssimo (lá estou eu outra vez) ao qual ditam o
"O País do Fado e do galo de Barcelos" ,
esse mesmo Portugal (...)
Julgam-me uma rapariga de alta cultura, que vive na Irlanda (talvez),
mas não passo de uma Alma Lusitana.
uma corrente que inconscientemente vai destruindo familias, sonhos e um pouco de tudo. quando a nossa maior certeza é de que não estamos certos de nada, agir habilmente e calmamente pode (não) ser a solução.
os três que ficam e os três que vão.
e tu, tens a certeza de quem protegerias?